quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Até que a morte nos una.

Eu acordei desesperado, em um movimento rápido eu já estava sentado.
O lençól cobria metade de minhas pernas, e você não estava do outro lado da cama.
Acreditaria fácilmente que a noite anterior teria sido um sonho, se seu cheiro não estivesse grudado no travesseiro.
Meus olhos famintos de você vasculharam todo o quarto, em vão, claro.
Minha mente tomou como prioridade se lembrar de todo e qualquer detalhe que indicasse onde você fora.
Me peguei em um sorriso caloroso ao perder a linha de raciocínio e lembrar de outras coisas, todas as coisas.
Me levantei, meio embriagado por todos os pensamentos, lembranças e você.
Caminhei até o espelho, bem emoldurado de carvalho maciço envernizado, que ocupava toda a parede do quarto.
A porta do banheiro estava na outra extremidade do quarto, relfetida pelo espelho.
Segui com os olhos, um rastro de sangue que se estendia por quase todo o quarto, começando pelo lado mais frio da cama, e terminando na greta da porta.
Tomado pela curiosidade, e por um lampejo breve de memória, caminhei para o outro lado do quarto, tomando muito cuidado ao espiar antes de entrar no banheiro.
Não deu pra ver quase nada, então arrisquei empurar de leve a porta.
Uma senssação agonizante me tomou, com o rangido que a porta fez, no meio da tarde silênciosa e escurecida pelas cortinas pesadasque tampavam qualquer possivel lugar luminoso.
Deliberadamente entrei no banheiro, quase caindo; não fosse eu ter segurado na maçaneta.
O rastro continuava ali dentro, e levava a uma parte mais funda do banheiro. Minuciosamente, segui-o. E no fim, estava de frente para uma cortina dessas que se usa em banheiro para demarcar o box.
Ergui a mão, a uma altura que fosse possível abrir a cortina sem empecilhos.
Em um salto pulei para tras, tomado pela completa surpresa.
Quando vi com clareza seu corpo coberto por uma mistura de muito sangue e pouca água, fui tomado por uma sessão de "flashbacks" me indicava tudo o que havia acontecido.
Por impulso, tentei levar a mão à boca, mas meus braços de alguma forma inexplicávelnão obedeceram o comando.
Desesperadamente, pude notar que meus dedos estavam muito roxos, e os espelhos que haviam ali, só refletiam o lugar, que agora era cercado por uma faixa amarela usada pela polícia que circulava o lugar sem notar minha presença.
Quando você, cadáverico, se levantou da banheira, e andou na minha direção desconcertado, eu tentei me explicar.
-Perdão, te destruir foi a única forma que encontrei de você não ter que partir.
E com uma voz vacilante, você respondeu.
-Agora estaremos sempre juntos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A irreal realidade dos sonhos.

Meus olhos estavam a procurar sua boca, ela estava fácil demais pra ser certo.
Você estava absorta em pensamentos. O que não acontecia muito.
Uma força muito estranha e maligna me dizia o que fazer, enquanto minha leve consciência contrariava. É como nos desenhos animados, que tem um anjinho e um diabinho ladeando os ombros de quem tem que fazer uma escolha.
Lampejos de memórias, coisas que dissemos; coisas que fizemos e mais coisas que não fizemos. Eu estaria surtando? Você estava bem à minha frente.
Não consegui acreditar que estava pensando mais um pouco.
A força maligna era de longe bem atenta, captara o barulho da porta do carro batendo na garagem.
Uma coisa era certa, se eu não a beijasse agora, enquanto estávamos sozinhos, não faria mais.
Coloquei-me a tomar uma atitude satisfatória -pra mim- Me inclinei alguns centímetros na sua direção - Era só o que precisava.
Meus lábios esquentavam com sua respiração arfante, que agora parecia ritmar numa velocidade maior.
Seus olhos não tomariam consciência do que estaria acontecendo tão cedo.
Encantou-me o quanto estava absorta, e então me pus a pensar mais um pouco, era tão fascinante e tentador, saber o que se passava na sua mente agora.
Senti o lençol se repuxar e escorregar até eu quase cair da beirada da cama.
Houve um clarão momentâneo, a luz do poste que ficava do lado da janela de madeira bronzeada acendera.
Assustei-me com uma repentina dilatação em sua pupila, mas o olhar continuou vago, vagando entre dois mundos distantes, o real, e aquele que ninguém além de você conhecia. Acomodei-me na cama para que o lençol não se repuxasse mais, foi então que você repentinamente caiu pra trás no colchão macio.
A expressão continuava a mesma. Perguntei-me se estaria fingindo, ou se realmente estaria tendo um acesso. Ouvi a chave tilintar na maçaneta da porta do hall no andar de baixo.
Uma estranha pessoa tomou conta de mim.
Aquele não era eu, debruçando por cima de você, eu não podia responder por meus atos atuais. Meu cabelo atualmente comprido, e como sempre oleoso, escorreu e caiu quase nos seus olhos, tive medo de acabar com aquele "devaneio" ou sei lá como classificar o que era aquilo.
Cheguei tão perto que senti de verdade meu nariz tocar o teu. Seus olhos verdes focalizaram alguma parte do teto, não importava agora.
Impaciente, mas entusiasmado e ansioso; fechei os olhos.
Reconheci o tac-taquear de um salto subir três degraus da escada de mármore. Gelei, fiquei imóvel, sem ato. Uma voz feminina bastante educada indagara alguma coisa, então o salto tac-taqueou mais três vezes, dessa vez com o som ficando mais distante.
Percebi que minha barriga estava totalmente deitada sobre a sua agora. Não era ruim, e meus braços estavam cansados, deixei assim.
Pude notar que você aprontava um beicinho, involuntariamente.
Aquela era minha (talvez última) deixa, então me desliguei do mundo por um instante.
Aproximei até que pudesse sentir seu hálito de melancia.
Aproximei-me mais um pouco, até que mais uma vez os narizes se tocaram, abri a boca de leve para tornar possível o beijo.
Uma ultima vez fechei os olhos, e então milimetricamente me inclinei uma ultima vez. Era agora, meus lábios enfim tocariam os seus, e então.
O despertador soou me levantei de pressa, olhei à minha volta, conseguia discernir através das janelas de vidro embaçado que o sol nascera ha pouco.

Os sonhos, não são mais fáceis que a realidade, apenas dispensam grande parte dos obstáculos impostos por nos mesmos e pelos outros.

A pequena.

Passos ladeados de “pensamentos alados” que “perderam suas asas”. Deus está no alto, bem longe, e vê a todos, pelo menos é o que dizem, mas como, se você aqui do meu lado, na minha frente, não me vê? Nem ao menos percebe o esforço inútil que eu faço pra simplesmente chamar a sua atenção, parece até que você prefere não me ver. Ei eu estou aqui, digo isso por que você passou e não me viu, me deixou sozinho com meus pensamentos alienados. Há, o passado não me vale de nada agora, aquele passado em que eu sabia quem era você. Não to querendo ser chato, mas cadê aquela menina que se dizia ser mulher quando na verdade me encantava com sua inocência? A pequena, que arrisco até dizer que eu amava se foi, deixando em seu lugar uma que em nada me agrada, esse desgosto constante em que eu encontro você, e que eu odeio por amar tanto, você e sua medíocre, hipócrita, incoerente e irrevogável perfeição. Pergunto-me se está certo do jeito que está, mas se não, como mais? O que me azucrina é que as alternativas acabaram, aliás, elas nunca existiram.